Um quadro de Picasso é pouco mais do que inútil numa casa em ruínas. O golo de Lucho, bonito em todas as fases, é incapaz de esconder uma exibição triste e desinspirada do FC Porto em Viena. Salvaram-se os três pontos, dirão os pragmáticos; perdeu-se muito mais, reagirão os puristas.
No Prater, nem valsa nem futebol. Ou, pelo menos, pouco futebol. Exceção feita ao tal golo de Lucho, o único do jogo e exemplarmente edificado, e à gestão bem feita nos 10/15 minutos finais, o FC Porto revelou-se passivo, distante, sem ponta de ardor ou desejo.
Ora, as razões para tal comportamento não são fáceis de identificar. Se olharmos para o adversário, vemos uma equipa de 11 rapazes bravos, entusiasmados e motivados por uma entrada forte. Tecnicamente primários, sim, mas decididos a aproveitar a oportunidade de jogar na Champions.
Por isso, por viverem um sonho, os austríacos recusaram largá-lo. Disputaram cada lance como se a sua vida disso dependesse, pressionaram por todo o campo enquanto cabeça, coração e pernas funcionaram. E deixaram o hiper favorito FC Porto em sobressalto.
Passes básicos errados, posicionamento preocupante, confiança excessiva, enfim, pouco se salvou dos tricampeões nacionais antes e depois do excelente golo de Lucho, anotado aos 55 minutos.
Jogar em Viena é recordar o calcanhar de Madjer, o instinto assassino de Juary, as arrancadas de Paulo Futre ou a segurança de Mlynarczyk. Também por isso, pelo peso de uma história brilhante, esta vitória fica inquinada por um sabor amargo.
Basta lembrar só mais um exemplo. No instante a seguir ao golo, o FC Porto permitiu uma bola ao poste da baliza de Helton. Sobreviveu aí, como noutras insistências austríacas, muitas vezes com mais sorte do que juízo, com mais surpresa do que competência
Foi tudo mau? Não, claro que não. As entradas do resistente Izmaylov e de Herrera funcionaram e puseram algum travão no Áustria Viena. Estamos, porém, a falar sobre uma fase muito adiantada do jogo, quando o FC Porto já vencia e se limitava a controlar.
Os números (seis jogos, seis vitórias) jogam a favor de Paulo Fonseca e são prova de que o treinador sabe o que faz. Também ele, no entanto, terá ficado desagrado com a análise genérica a esta sua estreia europeia.
A casa azul e branca sobreviveu à avalanche austríaca, mas tremeu, tremeu muito. E pouco se salvou, a não ser a tal moldura desenhada por um gentleman chamado Lucho Gonzalez. O Picasso da noite no Prater.
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