O
autor e intérprete de "Pó de arroz", "Cinderela",
"Cartas de amor", "Refilar faz mal à vesícula",
"Está zero a zero", "P'ras sogras que encontrei na
vida", entre outras, morreu num acidente de viação, em Rio
Maior, no dia 26 de Agosto de 1988
Carlos
Paião, falecido há 25 anos, foi "um compositor e autor de
mérito único", mas o começo de carreira não foi fácil, como
recordou à Lusa o produtor musical Mário Martins, o primeiro a
reconhecer-lhe o talento.
"Se
hoje estivesse vivo, seria provavelmente o maior compositor e autor
de música ligeira", enfatizou Mário Martins, que conheceu
Carlos Paião por intermédio de "outro grande compositor",
Manuel Paião, seu primo, autor de sucessos como "Ó tempo volta
p'ra trás".
"O
Carlos Paião tinha ganhado o Festival da Canção de Ílhavo, e
tinha enviado uma cassete com temas seus para a EMI-Valentim de
Carvalho, que nunca mereceu qualquer resposta, até que o Manuel
Paião, com quem eu trabalhava regularmente, me pediu para ouvir a
cassete e eu fiquei abismado, pois havia ali muita qualidade",
contou Mário Martins, na altura diretor do Departamento de Artistas
e Repertório da antiga discográfica.
"O
Carlos [Paião] não tinha uma grande voz, mas era um extraordinário
compositor e autor e, quando entrei em contacto com ele para gravar
temas, disse-me que também não estava interessado em gravar",
recordou.
O
fadista António Mourão foi o primeiro a gravar um tema de Carlos
Paião, "Fado Reguila", que "não alcançou o sucesso
esperado", mas Mário Martins recorreu a uma outra estratégia -
tornar Amália Rodrigues uma aliada.
Reconhecendo
em Paião "características idênticas às de outro grande
autor, que foi o Alberto Janes", e notando-lhe "um grande
sentido de humor", Mário Martins recorreu a Amália, "o
milagre português, que seria a pessoa capaz de percecionar essa
genialidade".
Amália
Rodrigues ouviu várias canções, "deu gargalhadas ao ouvi-las,
e escolheu logo uma dúzia delas, nomeadamente 'O Senhor
Extraterrestre', que gravou".
Estava
dado o pontapé de saída. No dia seguinte, Mário Martins fez saber
no meio radiofónico que a fadista ia gravar Carlos Paião, e os
temas de sua autoria começaram a rodar.
Amália
Rodrigues gravou "O Senhor Extraterrestre", num
maxi-single, cujo lado B era um tema de Janes, "Ó meu irmão
brasileiro".
Segundo
Mário Martins, "há um ou dois inéditos de Paião" que
Amália gravou, entre os quais "O nosso povo".
Carlos
Paião estava lançado, e começaram a surgir na rádio as diferentes
canções com a sua assinatura. Concorreu ao festival da canção
infantil da Figueira da Foz, com os temas "Eu já namoro" e
"O meu avozinho", e a cançonetista Ana gravou temas seus.
Ana
foi a primeira de muitos outros nomes como Mísia, Florência, Lenita
Gentil, Alberto Reis, Alexandra, Vasco Rafael e Cândida Branca Flor,
que foi a intérprete que mais o cantou, segundo o seu biógrafo,
Nuno Gonçalo da Paula.
O
primeiro disco que Carlos Paião gravou, como intérprete, incluiu os
temas "Souvenir de Portugal" e "Eu não sou poeta".
Colaborou na música para a revista "Escabeche", no Teatro
ABC, em Lisboa, ganhou, em 1981, o Festival RTP da Canção, com
"Playback", batendo temas interpretados por nomes como José
Cid, as Doce, Maria Guinot e a dupla Carlos Alberto Moniz e Maria do
Amparo.
Colaborou
na telvisão com Herman José, António Sala e Luís Arriaga, tendo
sido um dos criadores das persoangens "Estebes" e "Serafim
Saudade", para o qual compôs o repertório.
Carlos
Paião, que terminara o curso de Medicina, acabou por se tornar um
nome de referência na música e, em pouco menos de uma década,
impôs-se como autor, compositor e intérprete, deixando "canções
antológicas" que novos nomes têm recuperado. São os casos de
Filipa Cardoso, Fábia Rebordão, Rui Veloso, Sam The Kid, Mesa e
Tiago Bettencourt & Mantha.
O
autor e intérprete de "Pó de arroz", "Cinderela",
"Cartas de amor", "Refilar faz mal à vesícula",
"Está zero a zero", "P'ras sogras que encontrei na
vida", entre outras, morreu num acidente de viação, em Rio
Maior, no dia 26 de agosto de 1988.
Em
março passado, a Parlaphone editou um duplo CD com canções suas,
entre as quais incluiu o tema inédito "Caminhar",
interpretado por Paião.
"Na
sua aparente fragilidade, ele foi mais forte do que a morte, que não
jogou limpo e perdeu, porque o Carlos Paião ficará sempre vivo na
memória dos que o conheceram e admiraram", disse Mário
Martins.
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