Nélson Évora voltou a sorrir. A fratura na tíbia da perna direita ficou para trás bem como o muito sofrimento que o obrigou a redefinir objetivos e a repensar o futuro. Na pista do Centro de Alto Rendimento do Jamor, onde se tem preparado para os Campeonatos de Portugal, este fim de semana, em Leiria (prova onde vai tentar fazer mínimos - 16,85 m, para os mundiais de agosto em Moscovo) o atleta do triplo salto quer continuar a chegar mais longe.
Passado mais de um ano sem competir, o campeão olímpico de 2008 reconhece ter feito falta.
«Sim, sinto que as pessoas têm saudades do Nélson Évora. Enquanto espectadores gostamos de ver os nossos a vencer e a fazer bons resultados e eu, nos momentos importantes, tentei sempre representar os portugueses da melhor forma. Também fora das pistas tentei dar uma boa imagem do nosso país, de um país evoluído. É importante sabermos o nosso papel lá fora. Felizmente, tenho o carinho das pessoas pelo que fiz, pela forma como as fiz, e sei que as pessoas sentiram a minha lesão. Sofreram comigo. Sinto que há uma empatia e que as pessoas se identificam comigo por ser lutador», concorda Évora, após mais um treino, onde até sob o ginásio do CAR há uma faixa a dizer: strong is happy (ser forte é ser feliz).
Ciente da sua função social à boleia do desporto, Nélson Évora não desiste de ser embaixador da atitude. A sua última campanha apela a isso mesmo: a fazer das fraquezas forças.
«É a minha mensagem. O meu trabalho não surge de um dia para o outro. As pessoas passaram a conhecer-me a partir de 2007, quando fui campeão do mundo, dando-se depois o boom com os Jogos, em 2008. Mas desde os meus 7 anos que sonho em tornar-me cada vez melhor. Este meu acidente foi outro desafio. Na vida passamos por grandes dificuldades e provações a que temos de fazer frente com todas as nossas forças. Quero ser um exemplo. Também pela situação atual do país, pelas dificuldades económicas que passamos, resta-nos ultrapassar obstáculos. É possível sermos felizes nem que seja só com a luta», aconselha, alertando para o muito que ainda está para vir.
«O meu tempo ainda não acabou, mas tenho um testemunho a passar. Temos de ter humildade para aprender, nem que seja aprender o que não fazer. A humildade permite evolução. Estou nessa fase. Até os mais novos têm muito para me ensinar. Nem que seja na garra. Não têm títulos e jogam-se sem medo», compara.
Olhando para trás, quando tudo foi posto em causa, Nélson Évora também chorou?
«Sim, chorei muito. Sofri. Foi muito difícil. A grandeza dos atletas, a nossa vaidade, é o nosso corpo e, de repente, isso foi-me tirado. Foi como se me tirassem o tapete debaixo dos pés. Tive de voltar a passar pelas mesmas dores musculares, pelas dores de adaptação ao esforço. Tive de aprender a andar, a correr, a saltar, a saltar pouco com muito esforço, tive de treinar com colegas com poucos anos de atletismo e ficar atrás deles. Tudo faz parte do processo. É uma questão de querer, de atitude, e de humildade», sustenta.
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