sábado, 23 de novembro de 2013

Passaram 50 anos sobre a morte de John F. Kennedy

Às 12h30 do dia 22 de novembro de 1963, a multidão que se aglomerava no centro de Dallas para ver passar a comitiva do presidente John Kennedy [JFK] ouviu um tiro, logo seguido de mais dois. Enquanto isso, nos bancos do Lincoln Continental 1961 descapotável onde seguiam o presidente e a mulher, Jacqueline [Jackie], e o casal anfitrião – o governador do Texas, John Connally, e a mulher, Nellie –, instalava-se o horror: primeiro, foi o governador que descaiu para o colo da mulher, logo imitado pelo presidente. As imagens de Jackie Kennedy a acolher o marido nos braços e, logo a seguir, reagindo à imensidão do que se estava a passar, a catapultar-se para a traseira do carro, foram vistas até à exaustão nos últimos 50 anos. Continuam, porém, tão incompreensíveis como naquele dia. Por um lado, porque prevalece a sensação de que os serviços secretos ocultaram a verdade sobre o atentado. Sensação intensificada pe­lo assassinato, dois dias depois, nos corredores da esquadra de Dallas, do alegado atirador furtivo, Lee Harvey Oswald, que fora preso 80 minutos depois do crime. Mas, acima de tudo, porque o assassínio brutal e prematuro, à queima-roupa, mas em público, de um presidente que personificava o american deram deixou na América um sentimen­to de impotência e de fragilidade quase tão grande como o que provocaria, quatro décadas depois, o 11 de setembro de 2001.

John Fitzgerald Kennedy nasceu a 29 de maio de 1917, em Brookline, Massachusetts, no seio de um clã que, na América dos self-made men, ascenderia a um estatuto de quasi-nobreza. Porque tanto o seu pai, Joseph Kennedy, como a sua mãe, Rose Fitzgerald, descen­diam de imigrantes católicos irlandeses que construíram não só sólidas fortunas como boas reputações nas suas comunidades e papéis de destaque na política local: o pai de Joseph inte­grou a Assembleia Municipal de Boston e chegou ao Senado do Massachusetts, o pai de Rose cumpriu dois mandatos como mayor de Boston. Um estatuto que ficou consolidado quando, em 1938, Joseph Kennedy, democrata influente, foi nomeado pelo presidenteRoosevelt embaixador dos EUA em Londres. Por essa altura, Joseph alimentava a ambição de chegar à presidência do seu país, mas o sonho caiu por terra quando se mostrou publicamente favorável a um entendimento entre os EUA e Hitler. Passou então a apostar tudo no filho mais velho, Joe, mas este morreria em combate, num acidente aéreo em Ingla­terra, em 1946. E foi nessa altura que John, o segundo filho – que regressara da guerra com uma medalha “por conduta extremamente heroica” – se tornou o delfim.

Com o pai a mover as influências certas, e feito o percurso que o levou da política local até ao Senado, JFK tinha 43 anos quando, em 1960, se apresentou como candidato democrata à presidência dos EUA. Jovem, belo, elegante, atlético e enérgico (apesar de ter vários problemas de saúde, conseguiu sempre ocultá-los), inteligente e instruído, parecia sentir-se bem na sua pele em qualquer circunstância. Em suma, era quase tão carismático como uma estrela de Hollywood.

Como se não bastasse, John tivera o extremo bom gosto (e bom senso) de se casar com uma mulher que lhe assentava como uma luva: bonita, elegante, culta, educada e cheia de estilo, Jacqueline Bouvier tinha ainda por cima ancestrais franceses, o que aumentava consideravelmente o seu potencial de charme perante os americanos. Durante a campanha, ao lado de Jackie (grávida de John John, que nasceu 17 dias depois de o pai ser eleito), e da filha de três anos, Caroline, John Kennedy transmitia a enternecedora imagem do marido e pai perfeito e feliz.

Vencido o republicano Richard Nixon por uma escassa vantagem, os Kennedy instalaram-se na Casa Branca em janeiro de 1961, para uma permanência que não lhes pouparia horas difíceis. Jackie, que antes de Caroline tinha tido um nado-morto, daria à luz um terceiro filho que morreria com dois dias. Esse desgosto, e as constantes (mas abafadas) infidelidades do marido deixá-la-iam muito deprimida.

Quanto ao presidente, a sua imagem seria fortemente abalada pelo fracasso da invasão da Baía dos Porcos, em 1961, mas recuperou o prestígio em 62, quan­do venceu o braço-de-ferro com Khrushchev na crise dos mísseis cubanos, certamente a fase mais quente da Guerra Fria. E se é certo que começou por apoiar militarmente o Vietname do Sul, também é verdade que quando morreu planeava a retirada gradual das tropas até ao final de 1965 (foi o seu sucessor, Johnson, quem retrocedeu nessa decisão). Kennedy conquistou ainda a simpatia dos negros envolvendo-se pessoalmente na sua luta pelos direitos civis. E nos cerca de mil dias que durou o seu mandato, o PIB cresceu a uma média de 5,5 por cento ao ano, a inflação estabilizou em 1%, o desemprego diminuiu e a produção industrial cresceu.

Ou seja, a sua reeleição em 1964 parecia garantida. Era, aliás, para seduzir o eleitorado do sul, que não via com bons olhos o apoio que dava aos negros, que Kennedy estava em Dallas na manhã em que foi morto. Trans­formado em mártir, ganhou nesse dia a aura de mito de quem deixa expectativas por cumprir.

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