Homer, Marge, Bart, Lisa e Maggie apaixonaram o mundo: 150 milhões de espectadores, 116 prémios e um império de 10 mil milhões de euros. A série de animação de maior sucesso de sempre chegou à TV há 25 anos. É caso para dizer... d"oh!
Volta e meia, lá se ouve na gíria popular: "Já viste se todos gostássemos de amarelo?" Homer, Marge, Bart, Lisa e Maggie parecem ser a exceção à regra. A família mais popular da TV, e certamente a de maior sucesso, que se estreou em formato próprio há um quarto de século no ecrã, celebrados na próxima quarta-feira, tem mostrado, ao longo de 26 temporadas e mais de 500 episódios, que é um fenómeno que resiste a modas e ao tempo. Os Simpsons, exibido por cá na Fox, souberam adaptar-se ao século XXI e prometem ter vindo para ficar, mostrando ser uma força da natureza à prova de bala junto do público e da crítica.
E não tardou até que o formato criado em 1989 por Matt Groening, atualmente a série norte-americana há mais tempo no ativo, se tenha tornado, inevitavelmente, também num negócio com dimensões raramente alcançadas por um produto televisivo. E que negócio!
A extensa e criativa linha de merchandising associada a esta marca - onde existe de tudo, desde as mais variadas peças de roupa a acessórios, canecas, aventais, jogos de mesa, bonecos, peluches, livros de banda desenhada, CD com bandas sonoras, videojogos, lancheiras, etc. -, já rendeu a estonteante quantia de cerca de quatro mil milhões de euros, aos quais se somam outras dezenas de milhões na venda de DVD, tanto das 25 temporadas como do filme de 2007. Este último, só nas bilheteiras globais, arrecadou cerca de 400 milhões de euros.
Feitas as contas, e juntando-se a este valor o lucro arrecadado pelos anúncios de publicidade e pelas constantes repetições de temporadas anteriores pelos quatro cantos do mundo, o império de Os Simpsons já chega aos 10 mil milhões de euros.
Um êxito que leva o núcleo principal de atores que emprestam as vozes às personagens de Springfield a ganhar, atualmente, 240 mil euros por episódio, o que os coloca no mesmo patamar de grandes estrelas da TV como Ellen Pompeo e Patrick Dempsey (Anatomia de Grey) ou Sofia Vergara (Uma Família Muito Moderna) e acima de outras como Claire Danes (Segurança Nacional).
150 milhões rendidos à família amarela
Nos EUA, a série de Matt Groening atingiu picos de audiência que passaram os 33 milhões de espectadores por episódio, chegando a ser o programa número 1 da TV naquele país. Atualmente, estima-se que as aventuras de Homer, Marge e companhia sejam vistas, todas as semanas, por cerca de 150 milhões de seguidores, tendo conseguido a comercialização para um mercado de mais de 200 países.
E nem só de anónimos se alimenta este fenómeno. A verdade é que, desde o primeiro momento, todos querem fazer parte da história de Os Simpsons. Pelo menos 400 figuras de renome mundial já contracenaram com a família amarela. De Cristiano Ronaldo a Barack Obama, passando por Jay Leno, U2, Helen Hunt, Gillian Anderson e David Duchovny, Larry King, Oprah Winfrey ou Smashing Pumpkins não resistiram e foram até Springfield. Mas, ao longo destes 25 anos, também houve quem tivesse recusado a participação na série, como Tom Cruise, Bruce Springsteen ou Michael Caine.
No que toca a prémios, a família mais famosa do mundo da animação também está de parabéns: já acumulou um impressionante total de 116 prémios de TV, entre eles 31 galardões Emmy e 30 prémios Annie, considerados os Óscares da animação no pequeno ecrã.
Indiscutivelmente um dos formatos de maior sucesso e popularidade de sempre, a revista Time elegeu-a, em 1999, "a melhor série de televisão do século XX". Poucos meses depois, outro grande reconhecimento: Homer, Marge, Bart, Lisa e Maggie receberam a sua própria estrela do Passeio da Fama, em Hollywood. Já em 2010, Os Simpsons foi considerada a maior marca televisiva de todos os tempos, num estudo da Brand Licensing Europe, que ouviu a opinião de quase 500 peritos em negócios de marcas. Neste estudo, a família amarela conseguiu ficar à frente de nomes icónicos da história da TV como Rua Sésamo e Looney Tunes.
E não é por menos: na década de 1990, a popularidade em torno desta série era tal que The Sunday Timese outros jornais internacionais dedicavam páginas de reportagem à bartmania, nascida do carinho dos mais novos (e não só!) pelo divertido Bart.
"Facilmente a melhor, mais inteligente e irreverente série deste ano. Uma rara confluência entre argumento, visuais e vozes encantadoras", escrevia Howard Rosenberg, do Los Angeles Times, aquando da estreia da série, em 1989.
"Existe uma linha ténue entre ser-se inteligentemente hilariante e objetivamente parvo. Os Simpsons têm mostrado, de forma exemplar, a capacidade para se manterem no lado certo desta equação, na maioria das vezes", acrescentava, por outro lado, John J. O"Connor, crítico do The New York Times.
Springfield: A cidade mais disputada em todo o mundo
Um dos reflexos do sucesso de Os Simpsons foi a guerra que se gerou em torno da cidade fictícia onde decorrem as aventuras desta família. Fictícia, porque as suas paisagens são animadas. Na verdade, Springfield "existe" no mundo real. Se quisermos ser mais específicos, existem 121 localidades com esse nome espalhadas por 35 estados norte-americanos. Por isso, não é de estranhar que todos os habitantes dessas 121 Springfield tivessem "guerreado" entre si, durante anos e anos, para que a sua cidade fosse a que lhes entra em casa desde 1989. E lutaram até 2012, ano em que Matt Groening revelou que aquela cidade fictícia corresponde à que se situa em Oregon, na costa oeste dos EUA.
"Percebi que é um dos nomes de cidade mais comuns nos Estados Unidos. Antevendo o sucesso do programa, pensei que iria ser engraçado ter tantas pessoas a pensar que essa seria a sua Springfield. E pensam mesmo", explicou o cartoonista em entrevista à edição de maio de 2012 da revista Smithsonian, acrescentando ainda que a Springfield "amarela" é também inspirada na popular série de TV dos anos de 1950 Father Knows Best, igualmente passada numa localidade homónima. O criador justificou ainda que foi em Oregon que passou a sua infância e, por isso, até a morada de Os Simpsons - Evergreen Terrace, 632 - corresponde à que tinha quando era criança.
Governada por um presidente de câmara corrupto - o democrata Joe Quimby, que chegou a admitir usar dinheiros públicos para pagar aos assassinos dos seus inimigos -, em Springfield é permitido o jogo, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a pesca com dinamite. E se a série bateu já todos os recordes em termos de duração, podemos dizer que o "mito da cidade de Springfield", escondido durante 23 anos, foi um dos segredos mais bem guardados da história da televisão.
Como o genérico (não) mudou ao longo dos anos
O genérico da série de animação costuma ser tão famoso - ou polémico - como o episódio que lhe sucede. A maioria começa com a câmara a passar do título da série para a cidade de Springfield, seguindo depois os membros da família a caminho de casa, onde os Simpsons se sentam no sofá para ver televisão. É assim desde o segundo episódio da primeira temporada.
Criado por David Silverman e acompanhado pela música da autoria de Danny Elfman, o genérico inclui três mudanças de episódio para episódio: Bart escreve frases diferentes no quadro da escola (ver caixa na página 11), Lisa toca diferentes solos no seu saxofone e as piadas que acompanham a família a entrar na sala para se sentar no sofá também variam.
Ao longo deste quarto de século, as mudanças foram poucas. A mais percetível aconteceu a 15 de fevereiro de 2009, quando a série passou a ser emitida em alta definição. Os criadores basearam-se no original e mantiveram as suas características, mas atualizaram a sequência para o século XXI (como o televisor que aparece na sala dos Simpsons). Na altura, Matt Groening chamou a mudança de "complicada".